Festival do Rio: "Histórias Reais de um Mentiroso" e "Dois Mundos"

Hic-A-Doo-La! Participei de uma promoção relâmpago via Twitter do site Omelete e fui um dos 5 vencedores. O prêmio era um par de ingressos para assistir ao documentário "Histórias Reais de um Mentiroso" com o curta-metragem "Dois Mundos" no pacote, com direito a seus respectivos diretores apresentando. Fui acompanhado de um amigo e, pasmem, ao entrar no cinema, o rapaz que estava conferindo as entradas disse que meu par de ingressos eram para 4 pessoas. Não deu tempo de chamar mais dois, uma pena. Agora, vamos ao que interessa.
Antes de tudo, preciso comentar sobre "Dois Mundos", dirigido pela Thereza Jessouroun. O curta fala sobre os dois mundos que existem para os surdos: O silencioso e o sonoro. Surdos que usam um aparelho contam suas experiências dentro desses dois mundos. Foi a primeira vez que vi alguma produção cinematográfica demonstrando os deficientes auditivos sem tentar nos fazer chorar. A vida deles não é fácil, isso não deixou de ser exibido, mas não foi algo que tomou conta de todo o filme, já que o objetivo não era esse. Ao seu término, obviamente recebeu calorosos aplausos, inclusive os meus.

"Histórias Reais de um Mentiroso", o documentário baseado no livro de mesmo nome. O documentário fala sobre o farsante Marcelo Rocha, que se passou de piloto de avião a líder da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Eventualmente sua maior mentira foi ao se passar por um dos donos da aviação Gol, conseguindo um camarote VIP em um famoso evento de folia, acesso a artistas, modelos e foi entrevistado algumas vezes pelo Amaury Júnior. O longa foi apresentado pela diretora, que também é a escritora do livro, Mariana Caltabiano, e, para a surpresa de todos, o próprio Marcelo Rocha subiu ao palco, discretamente algemado. Até a Caltabiano se mostrou surpresa.
O documentário mostrou, de uma forma até bem-humorada, a vida do mentiroso, seus golpes mais notáveis, além de entrevistas com o Marcelo, sua mãe e alguns dos envolvidos nos casos mostrados ao longo do filme. Espero que um dia ele esteja acessível aos interessados em um circuito mais aberto. Acreditem ou não, a sala estava cheia.
Mesmo sendo um assunto sério, afinal estamos falando de um bandido aqui, era impossível não rir das situações apresentadas. Sua história de vida era um "Prenda-me se for Capaz" brasileiro. Seu objetivo era conhecer vários lugares, visto que não tinha dinheiro algum, fingiu ser o sobrinho do dono de uma empresa de ônibus, mas logo após chegar à seu destino foi descoberto e mandado de volta. Em certo ponto de sua vida, Marcelo aprendeu a pilotar aeronaves e usou essa habilidade para trabalhar como piloto de contrabando, por muito pouco não foi morto por um grupo colombiano. Ao servir às forças armadas, para evitar esforços físicos, alegou ser um lutador de jiu-jitsu e, com isso, ganhou uma longa folga para poder participar de um torneio local. O pilantra inclusive se passou por policial em outro estado, quando queria ver a praia, aplicando os conhecimentos que obteve no tempo em que passou visitando a delegacia onde seu primo trabalhava, disse ser um policial de elite que foi enviado para um "reconhecimento de campo". Durante sua temporada como policial, além de conquistar a confiança de todos ao seu redor, chegou a apreender uma boa quantidade de maconha.
Apesar de todos os prejuízos causados, não chegou a matar. Se adaptava ao ambiente onde estava e, usando sua persuasão, manipulava todos a sua volta, um psicopata. Durante uma de suas prisões, se impôs como líder uma rebelião recém iniciada que tinha tudo para dar errado e acabar em mortes se não fosse por sua inteligência. Toda a vida de Marcelo Rocha foi baseada na mentira e na malandragem que por muito pouco não deu certo. Se ele não tivesse sido pego, qual seria seu limite? Talvez se tornaria um político, daria aulas de como ser um verdadeiro pilantra ou não teria limite algum, a ponto de ir à países mais distantes que Paraguai e Colômbia. Nas entrevistas, não demonstra arrependimento do que fez, provando que faria de novo e de novo. O que mais se destaca é que para o farsante tudo não passava de uma grande brincadeira aos seus olhos, é assim que ele vê o mundo: como seu grande playground, além de não ter medo de mentir.

3 comentários:

V.Carity disse...

Eu acho que dificilmente teria assistido ao filme se não tivesse ganho ingressos ^^ não considero um prenda-me se for capaz, porque ele foi prezo de mais ao contrário do vigarista gringo que hoje é policial.

Anônimo disse...

Spoiler!

Cássio D. Versus disse...

É, aproveito a oportunidade e agradeço pelo convite (mesmo sabendo que deveríamos ter levado mais duas pessoas) ...
Excelente documentário e ótimo curta. (Igor leva HQ's na mochila para o cinema, e estou falando muito sério!)