Quadrinhos - Substitutos
Ainda não preparei nenhuma postagem digna de ser lida, então resolvi falar sobre "Substitutos", tanto HQ quanto sua adaptação cinematográfica, ambas lançadas em 2009 por aqui. A história tem algumas questões que devem ser comentadas. Por "Substitutos" ser mais séria que as outras HQs comentadas aqui, vou fazer uma rápida sinopse, comentar o que achei, o que vi e relacionar com o filme. Como sempre, evitarei spoilers.
"Substitutos" é um suspense policial e sci-fi que se passa no ano de 2054, num futuro onde a sociedade pode interagir com o mundo sem sair de casa, usando uma espécie de andróide substituto, controlado por um aparelho instalado na casa do usuário. Em certo momento surge um tecno-terrorista que segue a ideologia de fazer com que as pessoas voltem às suas vidas normais, sem substitutos. É aí que entram os detetives Greer e Ford, visando resolver esse caso e manter as coisas como elas são.
Escrita por Robert Vendittti e desenhada por Brette Weldele, a edição lançada por aqui, pela Devir, tem as 5 edições e vários extras. Entre o fim de um capítulo e o começo de outro, temos páginas com artigos de jornais, anúncios e arquivos, dando um ar mais realista e complementando a trama.
Há uma minoria que vive isolada em uma espécie reserva: pobres, mendigos, ex presidiários, pessoas que não apoiam os subs. Essa sociedade excluída é liderada por Zaire Powel III, ou simplesmente "O Profeta". Com um passado obscuro (revelado em um dos arquivos do album), ele prega, assim como o terrorista, sua ideologia anti-substituto, planejando futuramente uma revolta armada.
A relação entre os detetives Harvey Greer e Pete Ford merece todo um destaque, já que ambos se completam perfeitamente, como uma perceria deve ser. Há momentos cômicos entre eles, o uso de sarcasmo é quase frequente, mas sem atrapalhar o clima noir e sombrio das investigações. Enquanto Greer usa um substituto a sua semelhança, Ford, assim como boa parte da população, usa um mais jovem, como uma personificação de seu perfil comportamental. É automático imaginar - errôneamente - que Ford é apenas um detetive engraçadinho que só fica na sombra do protagonista, ele participa muito do caso, ajuda e apóia Greer, que desde o início demonstra ter mais experiência que seu "jovem" colega.
Harvey Greer, um detetive veterano, indica estar cada vez mais cansado com seu trabalho, isso somado a sua estressante relação com a esposa. Depressiva, não sai de seu quarto, onde fica o tempo todo controlando sua jovem réplica tecnológica, nunca dando assistência ao marido.
A trama nos faz questionar quem é o verdadeiro vilão do caso: o terrorista que só quer que as pessoas vivam de verdade, a empresa criadora dos substitutos, o Profeta e seus seguidores - chamados de "Os Temíveis" - ou até a população que se rendeu ao comodismo, à estética e têm vergonha de mostrar quem realmente são uns aos outros. Como é mostrado em um dos artigos, os empregos pedem pessoas brancas e bonitas, negros podem até ser aceitos, mas é muito difícil. Uma outra questão é a do gênero: Muitos homens, visando empregos mais leves, acabam por usar andróides femininos enquanto as mulheres escolhem serviços mais pesados, para demonstrar força, se caracterizam como homens.
Lendo apenas a sinopse da HQ, alguém pode achar que trata-se de uma história para "nerds", que tem muitas coisas complicadas de entender. É errado julgar isso, e sempre vai ter alguma explicação sobre certos termos, ora por algum personagem falando, ora por uma nota no canto da página, e, claro, sem quebrar o mistério. Pode ser cansativo ler tantas coisas, tantos detalhes de uma vez. Não é uma história de ação repleta de pancadaria, tem todo um suspense que tenta prender o leitor a cada página. É claro que, se o leitor não está acostumado a ler quadrinhos ou apenas se interessa por fantasiados batendo em fantasiados, pode não ter muito interesse em "Substitutos" e se voltar ao filme, protagonizado por Bruce Willis.
O longa metragem, lançado no Brasil junto a graphic novel, vai para a lista de adaptações que sairam do foco, entregando uma conclusão igual, mas ainda assim muito diferente da obra original. Ficou completamente voltado a ação, deixando toda a investigação quase em segundo plano, dando resultados um pouco confusos e mal explicados, com muitos furos no roteiro. O filme acabou se tornando uma espécie de "Máquina Mortífera" futurista, no mal sentido. Bruce Willis é um ótimo ator, mas descaracterizou bastante seu personagem, o detetive Greer, enquanto seu parceiro, Ford, tornou-se uma mulher. Um erro mortal é que o terrorista (chamado de Limpa-Chaminé, no quadrinho) na adaptação mata os usuários, enquanto nas páginas, ele apenas "mata" o andróide. Algumas conlusões são entregues muito facilmente, como disse, a ação acabou se sobrepondo ao suspense. Toda aquela ideologia está lá, mas muito resumida e acelerada. Aconselho aos interessados que leiam "Substitutos" antes de assistir ao filme.
Por conseguinte, o graphic "Substitutos" você encontra em comic shops, livrarias ou pela net, no valor de R$38,50. Sim, é caro, como todas as publicações da Devir, esse preço, infelizmente, acaba afastando leitores casuais. O filme você encontra nas locadoras mais próximas.
E você, caro leitor, qual sua opinião sobre os substitutos? Acha que, com a robótica evoluindo cada vez mais, essa ficção se aproxima da realidade?
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2 comentários:
Não conhecia a diferença entre a graphic novel e o filme. Muito bom saber disso...e pelo modo como você descreveu, lembra os artigos extras que encontramos lendo Watchmen.
Quanto ao post, senti uma aura quase jornalistica no seu texto. Não que tenha ficado ruim, mas sim diferente do seu estilo. ^^
Excelente postagem. Concordo com um dos comentários acima sobre uma certa "aura quase jornalística", e é um elogio.
Ainda não li a graphic novel, e sinceramente não pretendo, vi o filme e achei-o regular,
e senti a história 'incompleta' mesmo não tendo conhecimento sobre a obra original, enfim...
Por este motivo gostei muito deste post, pois pude ter uma melhor idéia sobre ambas as artes, texto construtivo.
Quanto a pergunta: qualquer suposição ou ficção baseada num certo futuro preguiçosamente caótico é válido, em minha opinião.
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